Educação popular em contexto de pandemia
Quando as desigualdades sociais falam mais alto.
Palabras clave:
Educação Popular, Ensino à Distância, Desigualdades SociaisResumen
Desde 2010, leciono Biologia em um projeto de educação comunitária em Santa Margarida, bairro localizado na periferia da cidade do Rio de Janeiro. Nosso objetivo é facilitar o acesso de estudantes de baixa renda ao ensino superior. Quando a pandemia da COVID-19 avançou pelo país e fez suas primeiras vítimas em março deste ano, o projeto, que inaugurava um novo ciclo de atividades, foi obrigado a suspender as aulas – o mesmo ocorreu com escolas e universidades. Resolvemos continuar trabalhando à distância, utilizando aplicativos de reuniões virtuais. Logo percebemos que o maior obstáculo para essa empreitada foi o panorama socioeconômico de nosso público. Sem acesso a computadores pessoais, conexões de qualidade com a internet ou materiais de estudo em suas residências, nossa turma de 2020 rapidamente se dissolveu. As alunas logo nas primeiras semanas, por conta de suas responsabilidades com o cuidado e o trabalho doméstico, e o restante ao longo dos meses seguintes. Com o aprofundamento da crise sanitária, agravada pelas medidas desastrosas e irresponsáveis tomadas pelo poder público, a situação das comunidades mais pobres piorou. Com isso, os esforços de nosso projeto foram direcionados ao atendimento de outras necessidades, e passamos a arrecadar e distribuir alimentos, materiais de limpeza e produtos de higiene pessoal para famílias carentes. Durante os poucos momentos em que pudemos conversar a respeito do futuro do projeto, concluímos que o ensino a distância não é uma alternativa eficiente para comunidades como a nossa, em que o acesso a recursos e direitos básicos de sobrevivência ainda não é uma realidade para todos. Os encontros e diálogos presenciais, realizados em espaços coletivos, auto-organizados e politicamente orientados, representam parte fundamental de nossa identidade e proposta pedagógica (FREIRE, 2019; GOMES, 2017; GOHN, 1999; HOOKS, 2017). Por este motivo ainda não estamos preparados para abandonar essa nossa proposta educativa.